O artigo sobre “O Cabralismo e suas consequências” oferece uma janela interessante no legado e na memoria não só de Amílcar Cabral, mas também do movimento de descolonização no século XXI. O autor, José Fortes Lopes, não cita Cabral diretamente; os leitores aprendem de suas políticas, história e influencia pelas representações do Fortes Lopes. Um líder das forças descolonizadoras em Guiné-Bissau e Cabo Verde, Cabral era, de acordo com Fortes Lopes, um marxista-leninista que adotou as teorias socialistas para o contexto africano. Em 2023, o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, “homenageou AC (Amílcar Cabral) e concedeu-lhe a Ordem da Liberdade,” por sua influência libertadora tanto nas colônias como o Portugal salazarista. Este honor indica que para muitas pessoas, Cabral segue um herói da independência e da liberdade.
Entretanto, Fortes Lopes indica que as políticas de Cabral, as que ele se chama “o cabralismo,” deixaram conflito e desigualdades nas ex-colônias portuguesas de Guiné-Bissau e Cabo Verde. Insiste que os problemas de corrupção e conflito armado em Guiné-Bissau, e os problemas de desenvolvimento desigual em Cabo Verde, são resultados da teoria de governança centralizada cabralista. As ideias socialistas e do governo centralizado, Fortes Lopes argumenta, seguem afetando os governos atuais dos países e limitam as possibilidades da democracia em Guiné-Bissau, e uma economia justa no Cabo Verde. É por isso, se entende, que Fortes Lopes intitula o artigo “O Cabralismo e suas consequências;” para ele, a memória de Cabral deve-se complicar, além do título de herói descolonizador e libertador.
Perguntas:
- Entende você o que é o “Cabralismo”? Carece de uma definição clara no artigo – fala-se das influências do marxismo, o leninismo, o pan-africanismo, mas estes términos também carecem de definições. Como se definiria o término você? Ou que informação queria para definir o término?
- É justo culpar aos problemas atuais destes países no Cabralismo? Por que?
Olá Rebecca,
Acho que o seu comentário sobre o legado de Amílcar Cabral e sua ideologia, Cabralismo, é muito interessante. Sua pergunta sobre se é justo culpar o Cabralismo pela escassez de democracia e paz em Angola também é uma pergunta na que tenho pensado muito. Para mim, acho que não é justo culpar o Cabralismo pela guerra civil em Angola, a causa melhor do sofrimento no país.
Embora o marxismo (a ideologia na que está baseado o Cabralismo) seja um sistema econômico que fracassou muitas vezes em muitos países pelo mundo, é a intervenção dos E.U.A e o U.S.S.R que causou muito sofrimento em Angola. Basicamente, a guerra civil em Angola foi uma fagulha que transformou-se num incêndio pela intervenção dos E.U.A e o U.S.S.R. Por isso, não acho que o Cabralismo seja a razão porque Angola tem tido tantos problemas.
Oi, Rebecca. Achei o artigo intelectualmente desonesto. Você explica claramente o problema: o autor “não cita Cabral diretamente”. Minha opinião é que, para se chegar a uma conclusão sobre o impacto do marxismo, do cabralismo, e suas articulações na política atual, é importante incluir definições e uma história política económica. Achei que grande parte do artigo era uma obsessão vaga e reduzida sobre o que é democracia e pluralidade, além de uma divisão um tanto enganosa sobre o que separa o Ocidente do Oriente, o centralismo vs provincialismo.
Eu não sei exatamente como definir o cabralismo, mas o artigo me lembrou de muitos artigos em jornais da direita colombiana que tiram conclusões sobre esquerda versus democracia sem realmente dialogar o ler.
Sobre se é justo ou nom, acredito que também seja importante incluir discussões sobre a Europa, os Estados Unidos, os bancos e o Fundo Monetário Internacional em relação aos problemas da Guiné-Bissau. Culpar o pensamento de uma única pessoa é um grande exagero.