“Compreendo a globalização como uma luz brilhando cada vez mais intensamente em poucas pessoas, enquanto os demais permanecem na escuridão, varridos para fora. Eles simplesmente não podem ser vistos. Quando você se acostuma a não ver algo, depois, lentamente, já não é possível enxergá-lo.”
— Arundhati Roy
Leio a Folha de São Paulo com um sentimento de frustração em relação ao silêncio cíclico dos meios internacionais, incluindo a Colômbia, sobre a distribuição dos riscos e crises entre o Sul Global e o Norte Global. E sobre o fato de que mais pessoas no estado de São Paulo perderam a eletricidade durante a tempestade do que na Flórida, devido ao furacão: 2,1 milhões versus 1,5 milhões. A citação de Arundhati Roy é muito relevante para reconhecer o silêncio repetido diante de crises graves, como a crise amazônica.
Meu artigo se chama “Aneel diz que reação da Enel ao apagão foi abaixo da adequada e cobra mais funcionários.” A Aneel é a Agência Nacional de Energia Elétrica, e a Enel é uma gigante energética italiana, a maior multinacional do setor elétrico na América Latina, África e Europa.
O artigo narra a inépcia e irresponsabilidade da Enel em reconectar a eletricidade de forma rápida, e sua falta de uma resposta pronta (pois a terceirização da Enel transforma a logística em um labirinto de responsabilidades). As autoridades de controle dizem que com a Enel tudo é mais lento, e as pessoas no Twitter culpam a privatização ocorrida em 2018, uma privatização relacionada também com políticas de direita contrárias ao poder sindical nas empresas públicas. A Folha não aprofunda em uma análise sobre a infraestrutura ou a Enel, mas eu sei — com base na minha pesquisa de doutorado que dialoga com esses temas — que, na Colômbia e no Chile, a Enel aumentou os custos da energia após as privatizações, e mais pessoas ficam sem luz e sem respostas quando ocorrem catástrofes naturais.
Outro tema é que as tempestades são problemas cíclicos. Todos os anos, São Paulo enfrenta esses problemas. Mas com o aquecimento global, tudo piora.
Minhas perguntas:
Você acha que os mercados e as lógicas de lucro oferecem soluções para os problemas ambientais ou os mercados são causadores desses problemas?
O que você pensa sobre as privatizações dos serviços públicos em lugares como Porto Rico ou São Paulo?
Olá, gostei muito do seu comentário. A citação de Arundhati Roy realmente capta a invisibilização das crises no Sul Global, e a questão da Enel destaca como a privatização pode piorar a resposta a desastres. Concordo que os mercados, focados no lucro, muitas vezes agravam os problemas ambientais, em vez de solucioná-los. Sobre as privatizações, como em São Paulo e Porto Rico, acho que elas tendem a sacrificar a qualidade dos serviços essenciais. Fiquei pensando: como podemos pressionar empresas privadas a priorizar o social e o ambiental?
Olá José
Está claro que você sabe muito sobre este tema. A descrição do que está passando na Colômbia é perturbador. Milhões de pessoas ficam sem luz porque Enel tarda muito tempo em arreglar seu sistema depois de um desastre natural. Também, a privatização das empresas elétricas resultou em aumentos dos custos para muitas pessoas. Está claro que a privatização das empresas elétricas foi uma decisão ruim.
Embora, há outros exemplos que indicam que empresas da energia que pertencem ao governo também são vulneráveis à corrupção. Por exemplo, no Brasil, onde aconteceu um escândalo grande com a Petrobras, a empresa nacional de óleo. Talvez a maior solução seria ter empresas de energia privadas com muita regulação do governo. Assim nenhum dos partidos pode enganar seus clientes sem esconder sua fraude de funcionários privados e do governo ao mesmo tempo.