Eu li um artigo na Revista Cult, chamado “A literatura migrante segundo Léonora Miano”. O artigo era uma entrevista de Victor Kutz com Léonora Miano, uma autora convidada para a Festa Literária Internacional de Paraty de 2024, no estado do Rio de Janeiro. Ela é uma autora camaronesa e francesa cuja literatura explora a experiência de mulheres africanas na Europa e na França, onde há 3,5 milhões de pessoas nascidas na África, representando 48% do número total de imigrantes. Um objetivo de sua literatura é “colocar no centro da narrativa aqueles que geralmente habitam as periferias (…) deslocar o centro e fazer com que o que normalmente é periférico se torne central”. É uma literatura que busca trazer a periferia ao centro, expondo a violência colonial dos impérios.
Uma coisa que gostei muito na entrevista foi a influência da autora africana de autoras brasileiras como Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento. Ela diz que Lélia “refletia sobre a natureza do racismo no Brasil, dizendo que o Brasil pratica um racismo cordial, ou seja, um racismo sutil, que te faz acreditar que você é da família, mas nega sua parte na partilha de poder. […] Isso é exatamente o que acontece na França. Não há brutalidade, mas há muita hipocrisia, chantagem e violência emocional.” Ela explica: “Descobri Lélia Gonzalez meio por acaso em uma publicação francesa sobre feministas do sul global, onde havia um artigo em que ela refletia sobre a dificuldade de definir a identidade dos negros no Brasil”.
Gostei muito de pensar sobre as redes intelectuais que conectam o sul global em relação a conversas sobre injustiça, e fico pensando se, em países como a Colômbia, as pessoas leem Léonora Miano para entender mais sobre a presença do racismo.
Pergunto:
- Existem referências intelectuais importantes na África ou acha importante que aprendamos mais sobre a África para entender problemas nos Estados Unidos?
- Concorda com Léonora e Lélia quando dizem que temos um racismo cordial, “ou seja, um racismo sutil, que te faz acreditar que você é da família, mas nega sua parte na partilha de poder”?
O link:
Oi, José!
Pessoalmente, não conheço o trabalho da Léonora Miano, assim que apreciei ler a sua discussão e aprender sobre uma artista nova. A sua discussão também tem muitos paralelos sobre a discussão de Ismael. Vocês dois falaram da ideia do dano emocional que o racismo institucional causa, e Ismael acrescentou que isto pode se manifestar em feridas físicas. A única coisa que não entendo muito bem que Miano diz é o conceito de “racismo cordial,” porque na realidade, é o racismo realmente cordial? Entendo que sim, pode ser mais sutil, mas de qualquer forma, ainda é discriminacao e isso causa muito dano, embora que seja mais sutil. Obrigada por este artigo tão interessante de ler!