All posts by Rebecca

“A calamidade climática é a nova realidade”

  1. Four images side by side: a person pours water on a fire, a person holds their head in front of a wrecked car, a person shovels mud, a broken down car in front of smokey skies and burnt trees.

Recentemente, o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres declarou que, “a calamidade climática é a nova realidade”. Num artigo na primeira página do Públio, uma notícia portuguesa, se contam dez exemplos das muitas calamidades climáticas que aconteceram no 2024 mundialmente. Interessantemente, o artigo inclui três casos estado-unidenses, três casos europeus, um caso africano, um caso asiático, e um caso (de ondas de calor fatais) que menciona vários países. Chama a atenção que os Estados Unidos 1) tivesse tantos exemplos de calamidades neste ano e 2) que os seus exemplos fossem tão representados nesta lista. Duvido que os Estados Unidos tivessem mais calamidades climáticas que o continente de África inteiro, por exemplo. Me parece mais uma questão da representação – acho provável que os desastres nos Estados Unidos recebessem mais atenção mundialmente que muitos outros lugares.

Creio que é importante reconhecer que os Estados Unidos, como um dos contribuintes maiores ao cambio climático, também estejam afeitados pelas calamidades climáticas. É importante entender o problema não só como um problema “da periferia”. Ao mesmo tempo, acredito que é perigoso que outros lugares não recebessem a mesma atenção e como tal o mesmo apoio internacional. Se realmente queremos entender o impacto do cambio climático, temos que incluir ao todo mundo. Além disso, devemos escutar aos países mais vulneráveis, como as nações-ilhas, que levam décadas compartindo experiências de calamidades climáticas.

Perguntas:

  1. Concorda você com António Guterres que estamos vivendo numa “nova realidade”?
  2. O que opinam sobre a representação excessiva dos Estados Unidos neste artigo?

O antropocentrismo

Algo que me chama muito a atenção sobre estes artigos — e acho que se reproduz geralmente nos artigos sobre as crises ambientais — é o foco nos humanos, o antropocentrismo. O primer artigo fala sobre as pessoas que causam incêndios e os políticos que não financiam suficientemente o controle dos fogos. Não fala, entretanto, o efeito ao ecossistema e a vida não humana. O segundo artigo fala sobre as mortes humanas por causa dos incêndios. Outra vez, não há nenhuma menção da vida não-humana ou mais-que-humana. O terceiro artigo segue o patrão quando fala sobre a ecoansiedade. Para ser clara: não digo que os humanos não causassem ou provoquem câmbios climáticos, nem que os humanos não sofram como consequência. Eu fui a Asheville recentemente e posso testificar ao sofrimento humano tanto físico como psicológico que os residentes lá estão sofrendo. Me interessa, contudo, que para enfatizar a solenidade do cambio climático, os jornalistas têm que centralizar o impacto nos humanos. Concordo que é provável que se os artigos falassem sobre a perdida da vida floresta, não receberia muita atenção. À mesma vez, me pergunto que se houvessem importado mais a vida mais-que-humana faz centos de anos, estaríamos nesta posição hoje.

Perguntas:

  1. Acha você que os artigos sobre o meio ambiente devem enfocar-se na vida humana?
  2. Como podemos valorar a vida humana e também a vida não humana?

Quem pode apoiar, quem pode votar?

Recentemente no Instagram, o artista Bad Bunny anunciou seu apoio à Kamala Harris, e este artigo especula sobre a influência possível deste anuncio. Como o artigo relata, Bad Bunny é um dos artistas mais ouvidos mundialmente, e tem uma plataforma e um alcance enormes. É interessante que um artista e uma pessoa porto-riquenha apoie uma candidata presidencial dado que, também como o artigo conta, os porto-riquenhos não podem votar. O artigo se enfoca na população diaspórica em Pensilvânia, onde ficam 300,000 pessoas que são porto-riquenhos e têm o direito ao voto. A implicação é que é possível que essas pessoas seguiram o exemplo de Bad Bunny e votarem para Kamala Harris, e que como resultado, ela poderia ganhar o estado sempre contestado (“swing state”).

O que a mi me parece importante, entretanto, é a influência que o artigo atribui ao Bad Bunny. Sugere que as pessoas não necessariamente votam seus valores, se não votam como seus artistas preferidos dizerem. Não sei exatamente os resultados nem estadísticas exatas dos apoios por parte das celebridades, mas é importante que digam que têm uma influência exagerada. Contribui, acho eu, discursivamente à construção da celebridade e o seu papel na sociedade e nas políticas.

Perguntas:

  1. Moramos numa democracia representativa se todas as pessoas que têm cidadania não podem votar?
  2. O que deve ser o papel do artista o da celebridade durante os eleições? (Pensem em Bad Bunny que apoio à Kamala Harris e Nicky Jam que apoio ao Trump.)

A Arte Política

É interessante que a semana sobre a arte siga a semana sobre a política; acho que dois dos artigos—o do Jornal Folha 8 e do Observador—mostram que a política e a arte são campos relacionados. A arte, desde o livro até o teatro, pode abordar temas políticos, como no exemplo do livro da história angolana. A história—que inclui quem pode contá-la e quais histórias são legítimas ou oficiais—sempre depende de relações de poder. No caso de “Mestre dos Batuques,” o autor José Eduardo Agualusa muda as datas da colonização da Angola, o qual seguramente seria polémico e poderia ter consequências políticas. No caso do artigo sobre a rede de teatros europeus, mostra que ainda que uma obra não trate diretamente um tema político, muitas instituições artísticas dependem dos fundos estatais. Sendo assim, os estados (e fundadores no geral) têm muita influência sobre o que arte se pode apresentar e o que não. Também, de acordo com o artigo, podem decidir quem segue trabalhando, e quem é despedido.

Perguntas

  1. Quais devem ser os limites de arte? Há temas que o arte não deve abordar?
  2. Se você doesse dinheiro a um teatro ou museu, queria decidir que arte exibem ou quem trabalha em ela?

As eleições angolanas: uma promessa ou uma mentira?

Presidente João Lorenço representa o partido Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que sustenta o poder desde a independência angolana em 1975. Se escreve este artigo em resposta a umas declarações recentes do Presidente celebrando o crescimento económico de 4,3%, mas o autor não comparte o otimismo dele. O costo da vida segue altíssima, e noma à plataforma do MPLA como “Aprendam a viver sem comer” —um programa, nota com sarcasmo, que tem tido muito sucesso, “excluindo os que morrem”. Membros do partido União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição, protestaram as declarações com cartazes que exigiram, “Liberte os presos políticos”, “Presidente demita-se”, e “O povo quer autarquías”, entre outras demandas. “As autarquias” se referem às eleições autónomas que o partido MPLA e o Presidente João Lorenço tem prometido por muitos anos. Este artigo sustenta, entretanto, que é uma promessa vazia. Apesar do apoio geral das eleições autarquias, inclusive por parte da igreja católica de Angola, o autor opina que a ditadura —e as consequências económicas e políticas dela—vão seguir.

Perguntas

  1. O que deve ser o papel dos jornalistas durante uma ditadura? É importante sustentar uma “objetividade” ou é importante nomear as mentiras do presidente-general?
  2. Opinam que este artigo é propaganda? Por que?

Complicando o legado de Amílcar Cabral

O artigo sobre “O Cabralismo e suas consequências” oferece uma janela interessante no legado e na memoria não só de Amílcar Cabral, mas também do movimento de descolonização no século XXI. O autor, José Fortes Lopes, não cita Cabral diretamente; os leitores aprendem de suas políticas, história e influencia pelas representações do Fortes Lopes. Um líder das forças descolonizadoras em Guiné-Bissau e Cabo Verde, Cabral era, de acordo com Fortes Lopes, um marxista-leninista que adotou as teorias socialistas para o contexto africano. Em 2023, o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, “homenageou AC (Amílcar Cabral) e concedeu-lhe a Ordem da Liberdade,” por sua influência libertadora tanto nas colônias como o Portugal salazarista. Este honor indica que para muitas pessoas, Cabral segue um herói da independência e da liberdade.

Entretanto, Fortes Lopes indica que as políticas de Cabral, as que ele se chama “o cabralismo,” deixaram conflito e desigualdades nas ex-colônias portuguesas de Guiné-Bissau e Cabo Verde. Insiste que os problemas de corrupção e conflito armado em Guiné-Bissau, e os problemas de desenvolvimento desigual em Cabo Verde, são resultados da teoria de governança centralizada cabralista. As ideias socialistas e do governo centralizado, Fortes Lopes argumenta, seguem afetando os governos atuais dos países e limitam as possibilidades da democracia em Guiné-Bissau, e uma economia justa no Cabo Verde. É por isso, se entende, que Fortes Lopes intitula o artigo “O Cabralismo e suas consequências;” para ele, a memória de Cabral deve-se complicar, além do título de herói descolonizador e libertador.

Perguntas:

  1. Entende você o que é o “Cabralismo”? Carece de uma definição clara no artigo – fala-se das influências do marxismo, o leninismo, o pan-africanismo, mas estes términos também carecem de definições. Como se definiria o término você? Ou que informação queria para definir o término?
  2. É justo culpar aos problemas atuais destes países no Cabralismo? Por que?

O Aborto Legal e a Saúde Mental

Foi interessante: eu pesquisei “aborto” e “mifepristona” em vários jornais, e na maioria, ou nada saiu, ou quase todos os artigos enfocaram no debate presidencial entre Kamala Harris e Donald Trump. Foi um pouco difícil encontrar um artigo que enfocasse num lugar lusófono. Ao final, encontrei este artigo sobre uma mulher que ganhou o direito a um aborto após duma batalha legal. Quando ela estava com 22 semanas de gravidez, os médicos dela a disseram que o feto não sobreviverá após o nascimento. No Brasil, o aborto é legal só baixo de três condições: “se o feto for anencéfalo (com má formação no desenvolvimento do bebê), se a gravidez for fruto de estupro, ou se a gravidez impuser risco de vida para a mãe.” Além disso, ela teve que provar que o feto não tinha possibilidades de viver em frente dum juiz. Pelos tramites judiciais, o procedimento foi atrasado muito tempo, e ela sofreu “angústia, medo e dor.” Ao final, ela ganhou o direito ao aborto porque a Segunda Câmara judicial considerou que a terceira condição do aborto legal—a que protege a saúde da gestante—inclue a saúde mental. A angústia que ela sentia então, lhe regalou a ela o direito ao aborto.

 

Perguntas:

 

  1. Se a saúde mental da gestante importa, porque as pessoas que estão gravidas não sempre têm o direito ao aborto? É dizer, se alguém sente angústia por dar à luz, porque esta situação não se considera uma razão para um aborto legal?
  2. Deve o aborto ser parte da saúde pública? Por que?

A Aparência e a Feminidade nos Esportes

Two photos of Imane Khelif. On the left, she smiles after her boxing victory. On the right, her hair is down, she wears earrings and makeup.

Durante os jogos olímpicos, havia um escândalo sobre a boxeadora argeliana Imane Khelif, campeã olímpica. Depois de vencer a uma boxeadora italiana, muitas notícias e pessoas famosas nas redes sociais a chamaram um homem, e a acusaram da violência de gênero. Neste artigo da Folha de São Paolo, discute a mudança de estilo que ela fez depois deste escândalo. Desde o título, o artigo invita ao leitor a ver as fotos de “antes e depois” e avaliar a diferença entre seus dois estilos. Ainda o salão que realizou a mudança dela aportou, “a aparência não revela a essência de uma pessoa,” este artigo não pergunta por que era necessário—o se deve ser necessário—que ela muda de estilo para defender seu género. O artigo também não reporta as acusações de racismo, sexismo, e transfobia das pessoas que a chamaram a Khelif um homem. Em vez disso, o artigo comparte que ela falhou “um teste de eligibilidade de gênero” em 2023. Parece que este artigo não importa analisar as acusações em contra dela, sem não dar a oportunidade ao leitor julgar se a mudança dela foi bem-sucedida.

Perguntas:

  1. Era necessário para ela mudar seu estilo? Quem tem a responsabilidade de responder as acusações contra ela?
  2. Como a raza e o gênero parecem nos esportes, e as notícias sobre elas?