Na antropologia, a tecnologia refere-se a quase tudo o que é feito pelo homem (human-made). Isso inclui dispositivos digitais, vacinas, modos de transporte e até mesmo a agricultura. Neste artigo, é revelado que um grande laboratório de tecnologia chamado Oxitec está produzindo caixas de mosquitos geneticamente modificados para serem vendidos em São Paulo. Os mosquitos são projetados para controlar a espécie Aedes aegypti, “mosquito causador de doenças como a dengue, a zika e a febre amarela”. Este mosquito passou por inúmeros experimentos, e tem sido estudado em diferentes populações desde 2016. Os benefícios incluem que os mosquitos machos não picam e é uma opção de controle sem químicos. Além disso, esses mosquitos aparentemente não interagem com outros animais e plantas (portanto, há menos probabilidade de afetar o equilíbrio do ecossistema).
Embora isto pareça uma boa ideia, tenho algumas preocupações. Estou atualmente em uma classe chamada “Antropologia e Meio Ambiente”, e um dos tópicos que temos discutido é a exploração (exploitation) de comunidades de baixa renda e o acesso às tecnologias. É importante considerar que esta nova biotecnologia custa dinheiro. É improvável que todos na comunidade possam pagar caixas de mosquitos geneticamente modificados. Por causa disso, há a questão de quem “fica com os mosquitos e quem não fica“. Quem fica com Dengue, Zika, ou febre amarela e quem não fica?
Também não sei o que pensar do público brasileiro ser o primeiro em todo o mundo a acessar e comprar esta tecnologia. O estado da Flórida anunciou um estudo piloto controlado em abril passado, e eles não estão nem perto de aprová-lo para uso público. Gostaria que este artigo em particular explicasse por que o Brasil foi o primeiro lugar na terra a ter um estudo piloto de longo prazo e permitir o acesso público. Será que a doença está mais desenfreada lá e, por isso, foi considerada uma localização prioritária? Espero que não seja uma decisão financeira apressada da parte da Oxitec, e que não estão a aproveitar-se de comunidades desesperadas por uma solução.
Perguntas para discussão:
1)Acha que é uma boa ideia que o público em geral tenha acesso a estes mosquitos? Achas que podemos confiar na Oxitec com os seus motivos?
2)Em termos de ética e justiça, quais são as implicações de vender os mosquitos ao público em vez de o governo e os serviços de saúde pública comprá-los e liberá-los? Que preocupações ou pensamentos você tem sobre este assunto?
Li seu post no blog e fiquei surpreso ao saber que os mosquitos estão sendo vendidos para qualquer um que o desejasse. Depois de ler, fui lembrado de outro evento da década de 1940. Após a Primeira Guerra Mundial, as armas biológicas foram proibidas, pois eram perigosas demais, mesmo em tempos de guerra. Entretanto, na Segunda Guerra Sino-Japonesa durante os anos 40, após a proibição das armas biológicas, o Japão envolveu em tecido um enxame de mosquitos infectados com a peste bubônica sobre a China várias vezes. Os japoneses usavam prisioneiros de guerra como sujeitos de teste com estes mosquitos, claramente cometendo múltiplos crimes de guerra. Entretanto, a pesquisa feita para criar esta arma mosquiteira seria posteriormente utilizada para a criação de vacinas e outros benefícios úteis.
Oi Vanessa,
Acho que este artigo tem tudo a ver com nossa discussão sobre poder e acesso à ciência segura. Eu nunca tinha ouvido de tais experimentos para criar mosquitos geneticamente modificados. O fato da que Oxitec é um laboratório do Reino Unido, ainda não aprovou o uso desse mosquito, mas vendê-lo para o Brasil. Mesmo na Flórida, isso ainda está em estudo e não esta aprovado. Isso me faz pensar: por que essas empresas concordam em vender biotecnologia para outros países que ainda estão testando? Eles querem ver como funciona naquele país para que possam criar um design melhor para eles? Isso é uma prática ética? Quando um país “desenvolvido” vende algo ainda em teste para um país “não desenvolvido”, parece uma forma de exploração para mim.
Acho que precisamos ter cuidado com quem tem acesso a esses mosquitões. Como um profissional de saúde pública, acho essas tecnologias são incríveis. Doenças relacionadas a mosquitos são comuns em muitas partes do mundo, incluindo o Brasil. Novas soluções tecnológicas podem ser o caminho do futuro para combater essas doenças, mas precisamos ter certeza de que as pessoas que são mais afetadas por doenças relacionadas aos mosquitos se beneficiem dessas novas tecnologias. Acho que a Oxitec tem a responsabilidade de garantir que isso aconteça. Talvez fosse mais justo para o governo distribuir esses mosquitos para as comunidades que mais precisam deles, em vez de vendê-los para o pagador mais alto.