Como celebramos e criticamos a representação

Nos artigos para esta semana, vejo três temas prevalentes. Um é a falta de investimento nas comunidades marginalizadas. No artigo do Brasil, muitas pessoas criticam a escolha de Xuxa, uma mulher cis, branca, e hetero como apresentadora do programa “Drag Race Brasil.” Dizem que seria melhor ter uma figura mais relevante na cultura das drag queens e na comunidade LGBT+ como apresentador do programa. Acham que a escolha indica que as drag queens não são vistas como capazes de liderar o programa. No segundo artigo, uma petição chama a atenção para a exclusão dos angolanos na criação de um documentário sobre a rainha Njinga Mbanda, uma figura importante na cultura angolano/africana. Angolanos que trabalham na indústria cinematográfica criticam Netflix por não incluir nenhuma pessoa angolana no processo. Afirmam que a falta de investimento na produção nacional reprime o empoderamento dos africanos. Finalmente, o terceiro artigo fala da exclusão de atores negros e o uso de atores exclusivamente brancos para o doblagem do filme animado “Soul” em português. As críticas derivam da desvalorização da comunidade negra na vida real enquanto o filme quer representar positivamente a cultura negra/afro-americana.


O segundo tema é o conceito de “ser satisfeito ou insatisfeito” com a representação da comunidade. Cada um dos artigos expressa o sentido de que embora haja progresso na exibição da comunidade (LGBT+, angolana, negra, etc.), ainda é preciso mais. No primeiro artigo, pessoas no Twitter dizem que adoram Xuxa, no entanto, prefeririam que uma drag queen verdadeira seja apresentadora do “Drag Race Brasil.” Um dissidente da petição angolana, Raimundo Salvador, argumenta que “deveríamos aplaudir esta iniciativa americana e ter algum respeito pelos produtores” porque pelos menos estão contando uma história africana em uma plataforma grande como a Netflix. Também, no artigo sobre “Soul”, o ator, Marco Mendonça, questiona: “É certamente uma vitória termos acesso a um filme da Pixar protagonizado por personagens e vozes negras, mas porque não esforçamo-nos para prolongar essa vitória? Por que não considerarmos artistas de pele negra para dar voz a personagens negras?” Podemos ver que há um conflito em como as pessoas acham que devemos reagir às notícias. Alguns acreditam que devemos ser gratos para o progresso que temos, mas outros exigem mais. Por exemplo, os autores dos artigos podem implicitamente indicar sua atitude em como eles escrevem. Na descrição do artigo três, o autor escreve: “Apesar da boa recepção do público e crítica, a versão portuguesa de “Soul” parece não agradar a todos.” Isto me parece diminuir as críticas porque é quase como o autor percebe as reclamações como irritantes. Esta atitude me lembra de um conceito que se chama “the feminist killjoy.” Quer dizer, quando uma pessoa destaca um problema na sociedade, essa pessoa se torna um problema.


Finalmente, queria mencionar o tema do que significa ser um aliado (an ally). Em cada artigo, parece que as pessoas criticadas (Xuxa, os produtores da Netflix, e os atores de “Soul”) têm boas intenções, mas suas ações têm efeitos negativos. Isso acontece muito quando pessoas brancas, ricas, cis, e hetero querem ser aliadas para comunidades marginalizadas. Tentam participar, porém o resultado é que os aliados falam sobre as vozes que desejam apoiar. Para mim, o papel de um aliado é abrir espaço e ouvir as perspectivas das comunidades afetadas. O que vocês acham?

Perguntas:
Há outros exemplos de como os artigos expressam satisfação ou insatisfação com a representação das comunidades marginalizadas?
Vocês acham que as pessoas criticadas nos artigos tinham boas intenções? O que poderiam fazer para ser aliados melhores?
É possível celebrar e criticar a representação no filme e na televisão ao mesmo tempo?

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3 Responses to Como celebramos e criticamos a representação

  1. Abraham Arevalo says:

    Mencionei brevemente outro exemplo de deturpação em meu artigo. In the Heights, não consegue representar a população afro-dominicana do bairro onde o filme foi produzido. No entanto, sinto que Lin-Manuel, o diretor do filme, teve boas intenções e até pediu desculpas depois de receber um backlash negativo. Acredito que um passo importante é fazer ouvir sua voz e mostrar às pessoas que o representam, neste caso Lin-Manuel, seu descontentamento com o produto final. Acredito que eles ainda são aliados, mas os torna conscientes de que, com a plataforma, eles têm uma responsabilidade e toda uma comunidade por trás deles.

  2. Vanessa Toro says:

    Outro exemplo que vem à mente é o recente anúncio do Disney sobre o lançamento de um filme baseado na Colômbia. O filme é chamado “Encanto” e a música será escrita por Lin-Manuel Miranda. O público argumenta que Lin-Manuel Miranda, embora LatinX, está tomando o lugar para alguém igualmente talentoso, mas com menos exposição (especificamente alguém de origem colombiana). No entanto, as pessoas argumentam que a comunidade LatinX não deve destruir-se mutuamente (tear each other down). Eles argumentam que LMM ganhou seu lugar e que Disney recontratou-o por causa de seu enorme sucesso com a música da “Moana.” Como colombiana, penso que esta é uma situação muito difícil de resolver. Eu vejo ambos pontos de vista.

  3. Luis Pastore-Manzano says:

    Oi Raquel! Achei sua análise dos artigos muito profunda e concordo com muito do que você falou. Como disse no meu post, acho que a representação de todas as comunidades é muito importante, especialmente com os grupos marginalizados como você falou. É interessante pensar em como as representações podem ser interpretadas. Relacionada a sua última pergunta, acho que sim é possível celebrar e criticar a representação no filme e na televisão ao mesmo tempo! Temos que ter uma boa imagem de todos e deixar saber as pessoas como são os diferentes grupos de identidades. Num mundo ideal, deixariamos alguém que faz parte de um grupo liderar e servir para representar a comunidade da maneira certa. No entanto, se pensarmos criticamente, é difícil que seja sempre assim. Às vezes simplesmente não temos alguém que tenha os meios para produzir um grande filme ou o conhecimento para fazer algo grande. Por mais triste que pareça, as pessoas dominantes da sociedade (não uma minoria) têm mais influência e podem ter um impacto mais profundo em um filme. Bem, não estou dizendo que alguém deva escolher interpretar um grupo inteiro quando não faz parte dele, mas às vezes a ajuda de alguém com grande influência na sociedade pode ser benéfica. Sempre que optamos por retratar algo, é sempre importante falar para as pessoas que têm experiência real e nunca presumir. Então, podemos ter satisfação que grandes influenciadores optam a representar um grupos, mas quando não se tem conhecimento das realidades e se tem liberdade de interpretação sem sentido, as coisas podem dar terrivelmente errado.

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